Terça-feira, 5 de Agosto de 2008

...

 

 

Como me podem dizer que, se fossem eu nunca falariam para a minha mãe? Eu sei que ela não foi uma boa mãe, que fugiu e nos deixou quando a maior parte das mães refugiam-se nos filhos para dar a volta por cima. É minha mãe e acho que já me revoltei e a culpei o suficiente. Agora estou mais na fase de a ver como uma mera conhecida. E faço-lhe exactamente o que faço com um conhecido, não dou confiança nem deposito nada de mim. É uma conhecida, e faço-lhe exactamente o que faria a qualquer outra pessoa.

Lembro-me que logo nos primeiros anos que ela foi para fora, sentir uma enorme saudade dela. Lembro-me de ser mimada e no início, quando ela vinha nas férias, lembro-me de a cobrir de beijos, de querer dormir com ela, de querer dar-lhe mimos, lembro-me de a querer só para mim assim como estar sempre no colo dela, e já aí me lembro que ela não me dava aquele afecto e carinho que a minha avó me tinha habituado. Mais tarde, quando comecei a ter consciência que ela é que quis ir embora, culpava-a de tudo, deixei de falar com ela ao telefone e quando ela vinha visitar-nos nas férias de verão, arranjava desculpas para não estar com ela. Cresci revoltada com o mundo e perguntando o porquê de ter uma mãe que decidiu refazer a sua vida longe de nós…

Às vezes tenho medo, porque vejo-me como ela. Cresci a tentar ser independente e a não confiar nas pessoas. Cresci decepcionada com o mundo. Cresci a não dar confiança a ninguém, cresci a refugiar-me do mundo e a ficar com os meus sentimentos para mim. Cresci a tentar ser fria e a não mostrar os meus sentimentos, as minhas recaídas aos outros. Cresci a tentar mostrar-me forte. Mas forte é coisa que não sou…

Por me achar parecida com ela em alguns aspectos, tenho medo que o muro que crio à minha volta me faça sofrer ainda mais… Tenho medo de errar como ela errou, tenho medo de me tornar fria demais como ela se tornou…

Quanto a não falar para ela nunca o vou fazer porque apesar de tudo é minha mãe, pode ter errado como mãe mas como pessoa não há nada a apontar. Só espero que um dia ela quebre o gelo e não tenha medo de dizer que errou e o quanto gosta de nós…

Não guardo mágoa, já aprendi a controlar esse sentimento, não posso dizer que o que aconteceu não me afectou, porque por mais que se diga que tenho uma família espectacular e que a substituíram, não me posso esquecer dos dias de revolta, dos dias de necessidade de uma mãe, dos dias que invejava outras crianças por terem os pais juntos e viver com eles, não posso esquecer-me quando surgiu meios irmãos que viviam com esses meus pais separados e tratava-o como sendo só pais deles, não posso esquecer que me tornei uma pessoa fria e que não acredita tanto no que me dizem, não posso esquecer que havia dias de revolta que dizia às pessoas que me educaram que não eram meus pais, ou não posso esquecer aqueles dias que me deitava e começava a chorar até adormecer, ou até que me sentia inferiorizada e sempre a precisar de carinho e dessas demonstrações. Não posso dizer que não influenciou em nada o meu crescimento ou a pessoa que hoje sou, porque ainda sou super insegura e preciso de mil provas para acreditar nas pessoas.

Mas aprendi, sim, aprendi que existem pessoas mais importantes que os pais biológicos e que sem elas não era ninguém. Aprendi que não podemos depositar as culpas nos outros e temos que aprender a viver e a lutar porque nada depende dos outros mas sim de nós. E aprendi a querer ser uma pessoa melhor e lutar por isso.


Publicado por meusrefugios às 15:22
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